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Férias de verão sem praia, mas com muita onda! (Parte I)

Maíra Castanheiro.

Valle de Bravo, 22 de agosto de 2014.

A educação sempre foi um tema principal na minha vida. O fato de ser mãe tornou a questão mais urgente. É quando sentimos a necessidade de sairmos do debate e partir para a prática. De fazer aquela mágica de transformar sonho em realidade. De modular o barro até que ele fique concreto. De esculpir a madeira até que dela saia vida e expressão. De misturar as cores até pintar o amor.

Se eu soubesse que ser mãe seria tão revolucionário teria sido mãe mais jovem. A maternidade me reconectou com minha essência: animal, intelectual e cultural. É quando tudo faz sentido, porque tudo é sentido. Porém, tá bom também ser mãe nem tão jovem e nem tão velha assim, justo quando estamos perdendo a esperança e nos acomodando vem uma gravidez renascer entre nós essa revolução necessária.

Pois, aquele sonho de na aposentadoria viver no campo e construir uma escola-não-escola virou um plano para ser-fazer no aqui e agora. Cotidianamente pensando em educação: participando de grupos no facebook, acompanhando muitos blogs, vendo muitos vídeos e documentários legais, lendo muitos livros e conversando com muita gente. Um mundo de informação. Além de, obviamente, a oportunidade e o privilégio que tenho, considerando as condições atuais de nossa sociedade, de estar com Maria Alice.

Tudo isso sendo processado artesanal-mente/manual-mente/consciente-mente. Na velocidade de Maria Alice, que cresce na velocidade da luz. Logo, aprendi a valorizar o tempo e a falta de tempo.

Já dizia Paulo Coelho: o universo conspira a nosso favor. É preciso de inspiração para respirar, é preciso respiração para inspirar. Este movimento de inspiração-respiração, inalar e exalar, contrair e expandir, quando compassado, cadencia nossas energias circulares num ritmo a favor da maré. É só acompanhar o vento e seguir o bater das asas dos pássaros até seu pousar que você encontrará onde pisar.

Através da Andree Valdaro Bucio, professora de La eskuelita, tomei conhecimento de um curso sobre matemática waldorf em Valle de Bravo e um outro curso sobre linguagem em San Miguel de Allende. Informei-me e decidi experimentar. Fiz primeiro o de matemática em Valle de Bravo nos dias 21 a 24 de julho, descansei uma semana e nos dias 4 a 8 de agosto fiz o curso de linguagem em San Miguel de Allende.

Peço licença neste texto para dividir publicamente minha experiência nestes dois cursos que fiz recentemente e que tem por base a Antroposofia/Pedagogia Waldorf.

Entre os dias 21 e 24 de julho de 2014, participei do seminário internacional de “resolución de problemas en la matemática y en lo social” com Uta Stolz e Martin Wienert, na cidade Valle de Bravo (Estado de México/México). O seminário foi promovido pela escola Los Caracoles que funciona há dez anos em Valle de Bravo sendo a pioneira, nesta cidade, a praticar a pedagogia waldorf, mais informações clicar aqui: http://www.waldorfloscaracoles.org/

Quando recebi o programa do seminário (um minicurso, este foi o primeiro módulo de 4 módulos, a cada ano, a cada verão (julho) um módulo) fiquei me perguntando se valeria a pena dedicar tempo e dinheiro num curso de matemática, uma disciplina que sempre me deixou de recuperação, que me traumatizou tornando-se uma matéria chata, difícil e inútil no meu ponto de vista.

Bom, mas algo me dizia que sim valeria a pena. E lá fui eu. E logo que cheguei a Los Caracoles conheci Uta Stolz (alemã, pedagoga curativa) que ao saber que eu era brasileira já foi falando português e desde já me delegou a função de ajuda-la na tradução e de evitar eventuais portunhóis, pois ela sabia melhor português que espanhol, já que viveu um tempo em São Paulo trabalhando no projeto Monte Azul, uma comunidade antroposófica na periferia de Sampa.

A maioria dos inscritos no seminário eram professores de outras escolas waldorf, havia representantes de: Ciudad de México, Cuernavaca, Guanajuato, San Miguel de Allende, Queretáro. Todo o corpo docente da escola Los Caracoles também estava participando. Além de mim, havia duas outras mães que não trabalhavam em escolas waldorf, porém seus filhos estudavam em uma escola waldorf ou elas apenas se interessavam pela pedagogia. A maioria de nós éramos mulheres: 18 mulheres e apenas 3 homens.

O seminário foi bem organizado. A escola é um ambiente agradabilíssimo. É como entrar num mundo feito de contos de fadas. Muito verde e muitas flores. A escola possui granja, horta, espaço aberto ao céu azul, o sol brilha no gramado. Beleza e tranquilidade eram sensíveis àquela escola.

Foram três dias e meio intensos. Na segunda-feira, 21 de julho, o seminário começou as 15h00minhrs e foi até as 19h15minhrs. Nas Terça e Quarta-feira de 08h50min até 19h15minhrs e na Quinta-feira de 08h50min até 17h15minhrs. Sempre pontual. Enquanto eu estava participando do seminário, Maria Alice ficava aos cuidados do papai e de Dona Margarita. Mamãe fazendo curso, papai terminando tese de doutorado e Maria Alice de férias de La Eskuelita. Como faz produção? A nossa solução foi contratar nesta semana a Dona Margarita que já trabalha três vezes por semana cuidando da casa e comida, para nos ajudar a cuidar de Maria Alice. Limpar xixi, cocô, dar banho, dar de comer, botar para dormir, brincar, dar atenção, tudo isso nós fazemos. Porém, Margarita levava Maria Alice ao parquinho todos os dias por três horas para ela brincar e papai trabalhar e mamãe estudar. As tardes, Maria Alice ficava agarrada nas barbas do papai, os dois juntos aprontam muitas loucuras. Quando eu chegava já perto do pôr sol (aqui no verão o sol se põe por volta das 20h30min) era aquele abraço de saudade.

O curso começava com uma saudação calorosa diante de uma manhã fria: um bom dia coletivo e logo cantávamos e dançávamos por dez minutos, era agradável, leve e divertido. Este momento era conduzido por Arturo (diretor e fundador da escola Los Caracoles) e após este momento descontraído entrava em cena Uta Stolz. Uta comandava o palco pela manhã e Martin Wienert, que falava em alemão e Uta traduzia simultaneamente ao espanhol, pela tarde.

O ritmo do curso sempre partia da prática para a teoria. Do todo para as partes. A cada hora e quinze minutos havia uma pausa de vinte minutos para ir ao banheiro, beber água, comer um bolo integral de cenoura, uma tostada de milho, um café, um chá. Tínhamos duas horas pro almoço, com deliciosos pratos típicos mexicanos, sempre com opção vegetariana.

Contarei aqui de forma bem resumida o que eu consegui aprender-apreender neste curso, de como introduzir os números às crianças.

Na pedagogia Waldorf a matemática é introduzida às crianças sem ser ensinada, sem ser dita. Através de contos de fadas o/a professor/a introduz os números, “era uma vez um rei que tinha três filhas...” e assim de forma natural as crianças vão vivenciando os números. Os contos narrados produzem imagens que permitem às crianças visualizarem os números sem os mesmos estarem propriamente escritos, desenhados. É muito importante dar ritmo e vida aos contos, ou seja, dar movimento e vida aos números: através de materiais orgânicos (bonecos de lã, pedras, galhos de árvores...) e do ritmo.

Entramos no mundo da matemática através da fala. Quando a criança já tem sua fala desenvolvida (aos 3 anos aproximadamente) ela passa a viver a matemática vital. A primeira relação que a criança tem com os números é a relação de um a um. De uma mãe. Um pai. Um corpo. Um sol. Uma lua. Uma terra. Uma relação direta sem intermediário. A individualidade, o Eu. A criança só pode contar aquilo que ela vê e toca.

No método Waldorf aos cincos anos se introduz a matemática. Fala-se da palavra numérica sem ter objetivo de ensinar, pois se acredita que é um lento processo para a criança entender. Vale ressaltar que a pedagogia Waldorf não tem pressa. Passam-se semanas trabalhando um mesmo tema. Aos seis anos através de muitos jogos, contos e canções se trabalham a questão da sequência e da classificação, e quando se classifica se exclui. A criança já entende os números e entende que o número posterior é o maior, uma sequência progressiva, em suma, trabalham-se os números ordinais, em seguida os cardinais. Primeiramente se introduz os números de 1 a 9, depois até 20. Estes números as crianças irão conhecer/descobrir em sua vitalidade, organicamente, como por exemplo, pode-se falar de muitos animais mamíferos que tem 4 patas. Dos planetas. Dos 12 signos do zodíaco. Podemos contar nossos dedos dos pés e das mãos. Aos sete anos, depois de muito vivenciar os números, a criança irá desenhar os números e entender o aspecto relacional destes. Pouco a pouco a criança será capaz de contar sem precisar tocar, ela poderá contar com os olhos e logo com a mente.

Continua no próximo.

Maíra Castanheiro

Valle do Bravo, 22 de agosto de 2014

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